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Como iniciar práticas educomunicadoras na escola?

educomunic

Professor da USP elucida possíveis caminhos para implementar práticas que unem educação e comunicação

Publicado originalmente por: Por Vir // ESCOLA

DO REDAÇÃO NA RUA

Do Centro de Referências em Educação Integral

Uma educação comprometida com a formação integral do indivíduo deve dar conta de todas as dimensões do desenvolvimento humano e estabelecer-se como processo ao longo da vida. Nesse sentido, o repensar das práticas de ensino e aprendizagem e o reconhecimento de seus potenciais agentes, tempos e espaços torna-se fundamental para oportunizar outras possibilidades educativas, para além daquelas compartimentadas pelos tradicionais currículos escolares.

Nesse contexto, a educação é cada vez mais tensionada a estabelecer diálogo com outras áreas do conhecimento, em arranjos mais abertos, criativos, participativos e que buscam, sobretudo, não hierarquizar a distribuição do saber, possível a qualquer pessoa dado o seu reconhecimento enquanto produtor de cultura. Essa é a defesa da educomunicação, conceito que vem dando pistas de como o uso dos meios, linguagens e instrumentos de comunicação podem estar presentes no espaço escolar, garantindo não só o direito universal à comunicação, mas também outras possibilidades de aprendizagem.

Unindo fontes acadêmicas e práticas de diferentes experiências, o Centro de Referências em Educação Integral procurou elucidar possíveis caminhos para o início das práticas educomunicadoras em instituições de ensino. A trilha foi construída com o apoio do professor do curso de licenciatura em Educomunicação da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), Marciel Consani.

O que é uma prática educomunicadora?

Para o pesquisador, é fundamental que haja, de início, um esclarecimento sobre o que diferencia a educomunicação de outras linhas de abordagem semelhantes. A explicação parte do século 20, especialmente da década de 80 em diante, quando se iniciou a preocupação de colocar as tecnologias, e depois as mídias, dentro da escola como suporte a projetos pedagógicos existentes. O chamado uso instrumentalizador da tecnologia e das mídias era utilizado no seguinte contexto: partia-se de um projeto educacional, aparentemente perfeito em suas metas e pressupostos, mas repleto de dificuldades de aceitação por parte dos alunos, ou distante de refletir o que a sociedade representava, configurando a escola como uma ilha isolada dos fenômenos da modernidade, especialmente da mídia. “A ideia era a de integrar as tecnologias a um projeto pedagógico predefinido”, atesta Consani.

A educomunicação, por sua vez, se apresenta como solução para os problemas de ordem comunicativa, pelos seus pressupostos considerarem que são estes os nutridores dos impasses de ordem pedagógica ou mesmo políticos. Os problemas de comunicação permeiam as relações entre os alunos, dos alunos com os professores e demais instâncias da escola, e dela mesma com seu entorno, com a sociedade, comunidade e famílias. Esse entendimento parte das teorias de comunicação pós-modernas, pós-estruturalistas, que vão além das teorias das recepções dos meios de comunicação, e sugerem a mediação. A ideia é que a comunicação independe dos meios uma vez que, o que está em jogo, são as mediações que ali atuam. Partindo disso, a educomunicação coloca dois questionamentos fundamentais: onde a comunicação pode ser melhorada na escola? E de que forma?

O papel dos gestores

Para a gestão, é essencial partir de um diagnóstico preliminar que indique problemas de natureza comunicativa. E não se trata de estabelecer fluxos informativos, mas de estabelecer diálogo, prerrogativa básica para o método que tem no seu corpus doutrinário a obra de Paulo Freire. “A nosso ver, não existe comunicação sem diálogo”, afirma o pesquisador.

Todo projeto educomunicativo, em essência, visa ampliar o diálogo na escola. Na prática isso significa possibilitar participação de pessoas anteriormente excluídas, transformar diálogos unilaterais em bilaterais, estabelecer canais de comunicação para que as pessoas consigam se manifestar, expressar sua voz, “e edificar o que chamamos de ecossistema comunicativo“, coloca.

Em primeira instância é preciso definir a natureza e a prioridade dos problemas de comunicação que têm que ser resolvidos. Em um segundo momento, é a hora de descobrir suas vocações, ou seja, estabelecer os canais de comunicação com os quais irá trabalhar. O educador exemplifica: “há escolas de educação infantil que não conseguem trabalhar com texto escrito ou uma tecnologia sofisticada como câmeras e editores de vídeo devido a fase de desenvolvimento das crianças. Veja que, nesse caso, a oralidade tem mais peso do que a comunicação verbal. E, assim, esses cenários precisam ser considerados”.

Entra em cena o professor mediador

Nesse momento é que deve figurar o professor mediador (educomunicador), responsável por estabelecer relações entre a criança/estudante e o currículo, e também entre a gestão, as diretrizes curriculares e o plano de aula a ser executado. Isso não significa apenas fazer o meio de campo entre o repertório cultural, o conhecimento institucionalizado e a criança. “Ele tem que ensinar e aprender a se comunicar, se comunicando”, garante Consani.

Para tanto, como primeira atitude, espera-se que o professor considere o conhecimento prévio da criança, o universo cultural que está nela, em seu entorno, na comunidade que ela vive para que haja uma abertura para a negociação desse contexto com seu próprio repertório individual e, depois, com aquilo que representa, no caso, a escola, por meio de seu currículo. “Em outras palavras, não adianta nada despejar um monte de conceitos prontos que não fazem sentido, que não estejam contextualizados ou não dialoguem com o universo daquele aluno, e classificar isso como educativo. A educação se faz por uma espécie de reconhecimento dentro de um repertório cultural”, explicita o pesquisador.

Ao que complementa: “então, mesmo quem não assiste a novela na Globo, sabe o que acontece. É preciso criar essa referência cultural compartilhada. A questão não está em tentar purificar essa influência cultural externa, mas em utilizar esses formatos comerciais veiculados pela mídia e promover uma crítica, não a partir de uma visão moralista, mas de uma problematização em que o aluno seja o protagonista. A leitura crítica tem que ser desenvolvida como uma habilidade, uma competência, e não vir pronta.”

Alunos participativos

Segundo o pesquisador, essa demanda é direcionada pelo perfil dos alunos. Ele alega que, ao longo dos estudos realizados pelo Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo (NCE) características próprias desse grupo e duas necessidades essenciais ficaram evidentes. Uma delas diz respeito à expressão, à vontade de ter voz, de dizer o que pensa e sente, o que não implica necessariamente em um canal de comunicação mas, sobretudo, no estímulo. Outra é estabelecer uma condição de pertencimento, de encontrar um espaço onde possa ouvir sua música, de produzir e mostrar suas produções.

Em sua análise, o estudante tem como modelo a terceira instância educadora. “A gente fala que a primeira é a escola, a segunda a família e a terceira é a mídia. E a mídia nunca vai ser controlada pela escola. Então, tem que haver essa negociação”, reforça. O modelo de comunicação primário do aluno é o da televisão, do rádio, das emissoras de sinal aberto. Por isso a necessidade de lê-los criticamente, processo que o aluno não inicia sozinho, em sua individualidade. “Isso tem que acontecer dentro da escola, a partir de um trabalho de mediação dos professores”.

Para Consani, quando o professor investe nesse papel de mediador entre a cultura institucionalizada, a mídia, e mostra as conexões existentes, o aluno descobre duas coisas fundamentais: que ele não vive em um mundo à parte e que pertence a uma comunidade e se depara com a questão da expressão, de querer colocar suas dúvidas, sentimentos e opiniões.

O espaço da família/comunidade

Na educomunicação, o conceito de comunidade escolar é entendido como não excludente, o que significa que o entorno do contexto escolar, ou seja, a comunidade e os familiares são considerados no processo de ensino aprendizagem. O pesquisador explica que a prática teve uma mudança de viés ao longo dos anos. No final da década de 90, eram bastante comuns as práticas educomunicadoras em contextos de organizações não governamentais e informais; a mudança, como explica, veio com a entrada do processo no âmbito do poder público, em parceria entre centros de estudo e redes de ensino, em contextos formais.

Nessa mudança histórica houve a necessidade de se reconhecer alguns conceitos, já presentes no repertório de escolas de educação mais avançada, libertária, como o da comunidade escolar. Não há comunidade escolar sem o envolvimento da família. “Ela permite que a produção do aluno seja compartilhada para fora do espaço escolar, e isso é mais uma estratégia de mostrar para a família o que ele faz e despertar o interesse para as ações educativas”.

Além disso, espera-se que a família possa se envolver ativamente nos processos de pesquisa sobre os quais os temas trabalhados demandam. Toda temática deve ser investigada e problematizada. E, embora a internet, seja um meio facilitador, não é o fim do trabalho pedagógico, e sim o começo. “O principal é a criança saber reconhecer os possíveis desdobramentos de pesquisa no entorno que ela transita, e a família pode e deve participar disso para se construir uma educação significativa, com interação na vida concreta”, afirma Consani.

A educomunicação a favor da educação integral

A meta de construir a cidadania, a partir do pressuposto básico do exercício do direito de todos à expressão e à comunicação, foi entendida como política pública nacional, além de nortear diversas práticas educativas pelo país.

No que tange a agenda pública, a educomunicação conseguiu figurar entre os macrocampos do programa Mais Educação, iniciativa do governo federal para diversificar e qualificar as oportunidades de aprendizagem nos ambientes escolares. A proposta é que as escolas possam fazer uso dos recursos midiáticos – rádio, jornal, fotografia, vídeo, histórias em quadrinhos – para promover o desenvolvimento de projetos educativos dentro dos espaços escolares, com a construção de propostas engajando os alunos em ações de colaboração para a melhoria das relações entre as pessoas, além de projetos de aprendizagem por meio da reflexão crítica e da possibilidade de intervenção na própria escola e na comunidade.

O cenário abre bons precedentes para a educação integral, a começar pelos próprios ambientes de aprendizagem. Deslocado para o papel de mediador de conhecimento, e não detentor, o professor pode se aproximar de seus alunos e, juntos, construírem percursos educativos mais colaborativos e significativos. Essa configuração que se dá com base em trabalho em equipe, debates e pesquisa possibilita situações mais democráticas e participativas.

O acesso a outras linguagens também é visto numa perspectiva integradora, como parte estrutural de um processo que promove a formação de cidadãos participativos política e socialmente, capazes de interagir na sociedade da informação na condição de emissores e não apenas consumidores de mensagens, o que garante o direito à comunicação.

Ainda assim, há considerações a serem colocadas, como elenca Marciel Consani. “A ideia do Mais Educação de aproveitar ao máximo o tempo escolar como um tempo educativo e não ficar preso a uma aula magna, expositiva, dá abertura para que se trabalhe com estratégias de diálogo com a mídia, com a cultura popular e outros campos como as artes”.

Por outro lado, a educomunicação se faz como um elemento que promove a transdisciplinaridade e a transversalidade dentro das áreas de conhecimento. E, portanto, os temas dentro dos macrocampos estão estruturados a partir de estratégias de “fazeres”, como fazer um vídeo, uma fotografia, uma história em quadrinhos. “Cada um deles traz uma linguagem, um repertório específico que precisa ser contextualizado, por não ser inerente à linguagem”, observa Consani.

A partir disso, o educador questiona as formas de se trabalhar prevendo o estabelecimento de significado na aprendizagem. “Como se trabalha com isso? Você vai apenas decupar as histórias, ou tentar entender o que as narrativas querem transmitir? Isso é pouco do ponto de vista educomunicativo?”. Consani reitera que, na parte prática, o que se espera é que a criança crie suas próprias narrativas, que até podem partir de um modelo, mas que tenha autonomia para romper tais amarras e se arriscar em criações livres.

“Veja que, em um determinado momento, essa história pode ser dramatizada, virar um vídeo, um tema pra redação com variações do enredo. É possível transportar a ideia e praticar o esforço de dialogar com a cultura em uma espécie de ciranda das mídias”, afirma. A seu ver, a educomunicação não se atém a uma ou outra mídia específica, pelo contrário. É uma abordagem que funciona em qualquer mídia e na interface entre várias delas. Então, o foco não está no fazer em si. Em suma, na educomunicação, a chave é entender que o fazer é um pretexto para a autorreflexão da criança frente ao seu repertório cultural.

*Fazem parte do Redação na Rua os sites Catraca Livre, Centro de Referências em Educação Integral, Guia de Empregos, Portal Aprendiz, Porvir e VilaMundo.

 

Publicidade e Licenciamento de Produtos para Crianças são debatidos no RioContentMarket

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Publicado originalmente por: ABPITV

Marcos Nisti, CEO do Instituto Alana, o diretor e produtor Guilherme Fiuza e Marici Ferreira, diretora-presidente da Abral (Associação Brasileira de Licenciamento) participaram do painel que discutiu a publicidade e produtos voltados ao público infantil, mediado pela diretora Carla Camurati.

O representante do Alana frisou que a entidade tem pleiteado a aplicação de direitos garantidos já na Constituição de 1988 e no Código do Consumidor, documento por sua vez publicado em 1990. O artigo 227 da Constituição Federal garante prioridade absoluta para os interesses das crianças e adolescentes. E que família, estado e sociedade tem responsabilidades para com eles. O CDC por sua vez proíbe a publicidade abusiva, que se aproveita da deficiência de julgamento de crianças até os seus 12 anos. As garantias estavam lá, mas não se fez nada até muito tempo depois. Jogamos essa conversa para debaixo do tapete, disse Nisti.

A Abral apresentou o projeto Eduque sem Medo, que incentiva mães e pais a educarem os filhos a respeito da publicidade indevida para crianças. Somos contra abusos, explicitou a presidente da entidade. Acreditamos em educação, completou Marici, que disse ainda concordar que personagens licenciados não deveriam ser usados pela indústria alimentícia.

O cineasta Guilherme Fiuza, com experiência em obras para o público infantil  como o longa O Menino no Espelho, 2014  refletiu sobre a importância de se valorizar a educação sem excesso de posses e marcas. Fomos nós, adultos, que tiramos as crianças das brincadeiras de rua. Nós tiramos o espaço deles e no lugar demos tablets. Não sou contra você vestir a camiseta do seu herói, seja ele o Mickey ou o Che Guevara, mas sou contra essa publicidade que martela na criança a necessidade de se comprar, comprar e comprar.

Carla Camurati  apoiada por Fiuza  reclamou da dificuldade em encontrar marcas que financiem projetos legais para crianças. Elas muitas vezes usam a imagem da criança mas quando você chega com um projeto eles dizem que não tem interesse em apoiar, disse. Marcos Nisti, do Alana, mostrou alguns exemplos de marcas que patrocinaram conteúdos bacanas sem se valer da vulnerabilidade da criança para vender um produto, como a Bic, que apoiou a série Que monstro te mordeu?, do Cao Hamburguer, e Dettol, com um clipe animado do Palavra Cantada.

 

Google lança YouTube Kids para Android e iOS, mas deixa Brasil de lado

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Publicado originalmente por: TechTudo

O Google lançou o YouTube Kids, uma plataforma especialmente pensada para as crianças, na última segunda-feira (23). O aplicativo lançado para Android e iOS oferecem diversas funções de busca, vídeos, interatividade e uma interface colorida para os pequenos usuários. No entanto, a função está liberada por enquanto apenas nos Estados Unidos, deixando o Brasil de fora desse lançamento.

O recurso YouTube Kids foi projetado para crianças de dez anos ou menos, e oferece algumas funcionalidades bem interessantes para aliviar a preocupação dos pais ou responsáveis. Para começar, estão disponíveis configurações para o controle dos pais como tempo de limite para uso, que tem como objetivo não deixar a criança ficar o dia inteiro conectada no dispositivo. Além disso, os pais podem desativar o som, selecionar previamente vídeos e conteúdos que os filhos poderão ver e desabilitar a função de pesquisa.

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Interface do YouTube Kids tem botões grandes e interatividade (Foto: Divulgação/YouTube)

Para o interesse do pequeno usuário, o aplicativo oferece uma interface brilhante e colorida, formulada com grandes botões, ícones destacados e tudo para facilitar a navegação. A ideia principal é criar uma experiência proveitosa para a criança aprender brincando. Além disso, é possível buscar por novos vídeos, todos com conteúdo infantil, para ampliar a curiosidade dos baixinhos, que pode ser feita por digitação ou comando de voz.

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Vídeos para crianças do YouTube Kids (Foto: Divulgação/YouTube)

O foco é o conteúdo familiar mais específico, e principalmente deixar as crianças longe de conteúdos impróprios, sem se preocupar com dezenas de filtros nos aplicativos tradicionais. No YouTube Kids está disposto um menu com categorias como Shows (programas de TV), Música, Aprendendo e Explorar. A plataforma ainda oferece conteúdos diversos - populares para os norte-americanos -, como as produções do DreamWorksTV, Jim Henson TV, Mother Goose Club (Clube da mamãe Ganso), Talking Tom and Friends  (Falando com o Tom e seus amigos) dentre outros. Também é possível pesquisar por conteúdo da National Geographic Kids, conhecer mais sobre tecnologia, ciência e tudo o que for do interesse do pequeno descobridor.

Dessa forma, a criança é incentivada a conhecer mais e absorver um conteúdo especialmente pensado para seu aprendizado. Por enquanto, o YouTube Kids está liberado apenas para os usuários dos Estados Unidos, em aplicativo Android e iOS. Ainda não há previsão para a disponibilidade no Brasil ou em outros países.

Via YouTube, Google

 

Guia para discutir publicidade infantil em sala de aula

 

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Publicado originalmente por: Criança e Consumo

O projeto Criança e Consumo do Instituto Alana comenta o enunciado da redação do Enem 2014 e traz algumas dicas e referências para ajudar os professores a aprofundar a discussão sobre o tema em sala de aula.

Publicidade infantil em questão no Brasil” foi o tema da redação proposto na edição de 2014 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Como referência, a prova apresentou um texto jornalístico que discute se a publicidade infantil deve ser proibida no Brasil, um infográfico sobre a publicidade para crianças no mundo e outro texto sobre a criança como o consumidor do futuro.

O tema foi certamente uma surpresa para a maioria, mas uma excelente escolha por parte do MEC, uma vez que ampliou o debate sobre a publicidade infantil e seus impactos na formação de crianças e convidou os jovens – futuros pais e profissionais – antes ausentes nesse debate a se debruçar de forma autoral sobre o tema que é de todos nós. Para aproveitar o momento e levar essa escolha adiante, vale refletir mais sobre esse assunto importante e urgente em sala de aula.

Algumas dicas e referências sobre o tema da publicidade infantil:

Um bom começo de discussão pode ser assistir e quem sabe fazer a exibição do documentário “Criança, a alma do negócio” (2008) aos alunos do ensino médio. O filme mostra como as crianças passaram a ser o principal alvo da publicidade e como são mais vulneráveis do que nós adultos.

E, se preferir a leitura, comece por Crianças do Consumo, de Susan Linn, que traz um apanhado geral sobre o tema.

Para compreender mais sobre a vulnerabilidade das crianças frente aos apelos de mercado não deixe de ler o parecer do psicólogo Yves de La Taille em uma contribuição feita ao Conselho Federal de Psicologia. Entender o significado de comunicação mercadológica e conhecer mais sobre o consumismo infantil também é um ponto importante. A leitura desse texto se faz necessária: http://criancaeconsumo.org.br/consumismo-infantil/.

As consequências da publicidade infantil, como o consumismo na infância, foram debatidas em uma série de cadernos de entrevistas multidisciplinares que abordam as seguintes questões: estresse familiar, a importância do brincar, os impactos do consumismo na sustentabilidade do planeta, erotização precoce e a obesidade infantil.

Para se aprofundar mais sobre o tema da obesidade infantil, que hoje acomete mais de 15% da população infantil brasileira, vale assistir e exibir o documentário Muito Além do Peso, além de conhecer as Recomendações da Consulta de Especialistas da OPAS sobre promoção de publicidade de alimentos.

Outro tema que merece destaque são os impactos da publicidade infantil e do consumismo na infância na sustentabilidade do planeta com dicas de como podemos reverter esse quadro. Para isso, vale ler e compartilhar a cartilha Consumismo Infantil na Contramão da Sustentabilidade, produzida pelo projeto Criança e Consumo, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente .

E por fim, vale a leitura do artigo Pequenos Consumidores, de Laís Fontenelle Pereira, para a Carta Fundamental.

Para mais artigos e bibliografia na área, conheça as publicações do projeto Criança e Consumo, assim como livros e filmes recomendados: http://criancaeconsumo.org.br/publicacoes .

Entenda a regulação da Publicidade Infantil no Brasil:

A Resolução 163 do Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) foi aprovada em abril de 2014 e buscou detalhar a abusividade da publicidade que se dirige diretamente ao público infantil. Tal dispositivo se fundamenta no art. 227 da Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e nos artigos 36, 37 e 39 do Código de Defesa do Consumidor

Face aos questionamentos da legitimidade constitucional do Conanda cabe esclarecer o papel do conselho e sua função de garantir a regulamentação de dispositivos legais que visam a defesa dos direitos da criança na prática. Clique aqui e entenda a resolução que define a abusivade da publicidade infantil.

O modelo de autorregulamentação do mercado publicitário tem sido insuficiente para coibir eventuais abusos e exercer o controle necessário para a publicidade que “se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança”, tal como define o CDC. Entenda os 12 motivos que mostram que a autorregulação feita pelo mercado publicitário brasileiro é insuficiente e ineficaz.

A preocupação com os impactos da publicidade infantil a cada dia ganha contornos globais. Na 69a. sessão da Assembleia Geral da ONU, foi lido o relatório Promoção e proteção dos direitos humanos: questões dos direitos humanos, incluindo abordagens alternativas para melhorar o gozo efetivo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais.

Elaborado pela relatora especial no campo dos direitos culturais, Farida Shaheed, o documento aborda a necessidade de regulamentação da comunicação publicitária face aos impactos negativos que é capaz de produzir, em especial nas crianças. Destaca-se a recomendação de proibir toda a publicidade comercial e de marketing em escolas públicas e privadas.

Como consequência da Resolução 163 do Conanda, no dia 19 de maio de 2014, o Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão, divulgou, uma Nota Técnica, visando o fim da comunicação mercadológica em todas as unidades escolares.

Vale lembrar que a sociedade civil também tem se colocado e se mobilizado a favor desse movimento. Conheça a Rede Brasileira de Infancia e Consumo (Rebrinc) e o Movimento Infância Livre de Consumismo (Milc) e saiba mais.

 

Bangladesh luta contra a desigualdade desde a pré-escola

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Na remota aldeia de Mohonpur, onde vivem 140 famílias, meninos e meninas se beneficiam de uma pré-escola gratuita de uma organização que promove o ensino para os menores das zonas rurais de Bangladesh. Foto: Mahmuddun Rashed Manik/IPS

Publicado originalmente por: Envolverde/IPS (Naimul Haq, da IPS)

Jamalpur, Bangladesh, 9/2/2015 – Shanta tem apenas quatro anos, mas já se encanta com a escola. Todas as manhãs, sua mãe a leva ao centro pré-escolar perto de sua casa na aldeia de Mohonpur, a 140 quilômetros da capital de Bangladesh, e a deixa aos cuidados de uma jovem professora que organiza as atividades.

Mosammet Laily Begum, mãe de Shanta, se dedica às tarefas domésticas em sua casa. Ela e o marido, que dirige um riquixá (triciclo para transporte de passageiros) e ganha o equivalente a US$ 100 por mês, vivem em uma choça com teto de palha. A família cultiva verduras para melhorar sua renda e consegue apenas alimentar e vestir seus três filhos. A educação é um luxo que, em outro momento e lugar, teriam que ter renunciado para cobrir suas as necessidades vitais.

Mas a pré-escola que fica perto de sua casa é gratuita. Os irmãos mais velhos de Shanta (nome fictício) também ocuparam as mesmas salas. Ali aprenderam a ler e escrever em inglês e bengali. Foram muito bem na escola primária. Sua mãe atribui o amor pelo estudo à base que obtiveram nesta aldeia do município de Jamalpur.

É uma família de sorte; ao contrário da maioria da população rural de Bangladesh que não tem possibilidades de ir a uma pré-escola, eles vivem perto de uma das milhares de escolas da organização Brac, que se dedica à educação de crianças entre três e cinco anos.

Há cerca de 3,3 milhões de meninas, meninos e adolescentes que não frequentem a escola em Bangladesh. Até 2012, o governo não oferecia alternativas a famílias como a de Shanta, sem recursos para custear o ensino pré-escolar. Isso significa que cerca de 45 milhões de bengalis que subsistem com menos de US$ 1,25 por dia só conseguem preparar seus filhos para o ensino básico.

Isso gera um círculo vicioso: as crianças mais pobres que não puderam se preparar para o primário ficam atrasadas em relação aos seus companheiros mais privilegiados. Esta desigualdade se perpetua no ensino secundário e terciário. Muitos dos jovens mais desfavorecidos constituem o grosso das pessoas desempregadas em Bangladesh, que representam 4,5% dos 168 milhões de habitantes.

Para nivelar um pouco a situação, a Brac tem 12.450 pré-escolas no país, onde são educados cerca de 360 mil meninos e meninas a cada ano. Seu Programa de Educação Pré-Escolar é a maior iniciativa gratuita para esse setor da população nesse país. No total são cerca de 5,2 milhões de meninas e meninos em idade pré-escolar que se beneficiaram do programa desde seu início, em 1997.

Parada em meio ao pequeno barracão de zinco que funciona como sala de aula, Rowshanara Begum, de 27 anos, está em sua sala. Tem um grupo de 30 alunos, 18 meninas e 12 meninos, e sabe que seu trabalho marca uma diferença. Uma das prioridades da Brac é conseguir 50% de matrículas de meninas. Durante duas horas e meia por dia, seis dias na semana, a professora cuida com carinho de ensinar o alfabeto ajudando com desenhos, rimas e brincadeiras. A estrutura flexível e informal faz com que as famílias continuem levando seus filhos.

“Há grande pressão dos pais para que seja aberta outra pré-escola gratuita na aldeia de Mohnpur”, contou Begum à IPS. As escolas gratuitas não são uma iniciativa menor em um país onde um estudante médio demora 8,6 anos para terminar o ciclo primário de cinco anos. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) atribui a situação aos baixos padrões do ensino público e ao fato de 24% das professoras das escolas estatais ou registradas pelo governo não terem capacitação.

Um trabalhador da Brac que não quis se identificar afirmou que a organização obteve um êxito “notável” na transição dos pré-escolares para a escola primária, cerca de 99,14%. E, no entanto, não é mais do que metade da batalha ganha.

Bangladesh conseguiu grandes progressos em matéria de educação nas últimas duas décadas. Atualmente, tem um dos maiores sistemas de ensino primário do mundo, com cerca de 20 milhões de alunos entre seis e dez anos, e aproximadamente 365 mil educadores em 82 mil escolas. Desde 1990, aumentou a matrícula de 72% para 97% e sua taxa de conclusão do curso passou de 40% para 79%. O número de escolas primárias que recebem livros de textos gratuitos aumentou de 32%, em 2010, para mais de 90%, em 2014.

Segundo a diretora-executiva da Campanha para a Educação Popular, Rasheda K. Choudhury, uma rede integrada por mil organizações que trabalham em educação, Bangladesh também reduziu a taxa de deserção escolar de 33%, há alguns anos, para 20%, no ano passado. “A melhor capacitação profissional, menor proporção entre estudantes e professores (atualmente 49 para um, menos do que 77 para 1, em 2005), e a entrega de um pagamento para os alunos são algumas das razões dos progressos”, pontuou à IPS.

Mas ainda restam assuntos a resolver. Numerosos especialistas concordam que, para melhorar a situação, é preciso aumentar os recursos para a educação, dos atuais 2,5% do produto interno bruto para 4%. Também é necessário melhorar o acesso à educação para 71% das pessoas que vivem nas zonas rurais, bem como nas comunidades indígenas. Segundo o diretor do Banco Mundial no país, Johannes Zutt, o governo atende aos que ficaram fora da reforma educacional, “incluindo os que residem em bairros pobres, menores trabalhadores, indígenas e outros com deficiências”.

Mas, enquanto programas como o da Brac não forem implantados em grande escala em todo o território, Bangladesh manterá um rendimento desigual em matéria educacional, e a meta de conseguir a educação primária universal, o segundo dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), continuará sendo inalcançável.

 

 


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