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CBeebies, uma conversa com os pequeninos

Com 25 anos de experiência em produção de televisão, Alison Stewart tem uma longa história na BBC. Desde 2010 assume a direção de produção, animação e aquisições do CBeebies, canal dedicado a crianças de até 6 anos de idade. Alison lidera a equipe que cria, desenvolve e produz conteúdos para TV, mídias interativas e rádio para os pequenos, da qual faz parte o Daniel Bays, produtor criativo que estará conosco no comKids Primeira Infância, nos dias 17 e 18 setembro.

Alison conversou com a gente sobre o canal e sobre os programas que eles desenvolvem.

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Katie Morag – Série Cbeebies

Qual é a missão do CBeebies? Quem são as crianças às quais vocês dirigem seus conteúdos?

Temos como objetivo produzir conteúdos para crianças de até seis anos de idade, para seus pais e cuidadores. Nos preocupamos em produzir conteúdos que refletem a vida das crianças do Reino Unido em toda sua diversidade. Nosso lema é “Lighting up little learners” (“Ajudando a criar novos aprendizes”, trad. livre). Queremos criar conteúdo de entretenimento educativo para todas as plataformas – TV, internet, celular, aplicativos e rádio  - que podem ser acessados pelo site da CBeebies. Nós também realizamos eventos ao vivo e buscamos projetos que nos possibilitem chegar mais perto de nossas audiências e de engajá-los com nossos conteúdos.

Você considera que o comportamento das crianças em idade pré escolar está mudando? Quem são as crianças de hoje?

Se pensarmos em termos de como as crianças de pré-escola vêm consumindo conteúdos hoje em dia, o seu comportamento teve uma grande mudança. Eles abraçam a tecnologia digital desde uma idade bastante precoce e esperam encontrar os seus títulos favoritos em cada plataforma e em cada dispositivo! Porém, no que diz respeito aos personagens, as histórias e atividades que eles amam participar, as crianças de pré-escola são basicamente as mesmas de sempre. E eu acredito que os estágios de desenvolvimento físico, emocional e intelectual ainda seguem em larga medida os mesmos padrões que sempre seguiram.

A CBeebies está colocando muitos  esforços em outras plataformas para a pré-escola. Como e quanto eles respondem à internet e aos jogos?

Como dito acima, nós disponibilizamos o conteúdo da CBeebies em muitas plataformas. Do mesmo modo que na TV, no meio interativo e na rádio, nós também temos um canal da CBeebies no YouTube, que é um serviço promocional destinado a adultos e crianças pequenas. Nossa audiência também acessa nosso conteúdo pelo serviço de atualização da BBC (BBC iPlayer). A cada mês, o iPlayer da BBC alcança em média 25 milhões de visualizações!

Sobre a grade que você oferece à audiência, existe algum equilíbrio entre live-action e animação? Qual das duas linguagens é mais eficiente para a primeira infância?

Na CBeebies há uma leve tendência para os conteúdos de animação, mas é bastante equilibrado. Ambos são igualmente efetivos para as crianças da pré-escola, que amam a cor e a fantasia da animação, mas também amam ver elas mesmas e suas vidas verdadeiramente refletidas na tela.

Como acontece o desenvolvimento de projetos da CBeebies?  Quanto tempo ele dura? Como é o relacionamento de vocês com as produtoras independentes?

A duração do desenvolvimento de projetos pode variar muito. Quando lidamos com marcas de animação internacionais, em especial, o processo de financiamento pode levar anos para se efetivar! Nós trabalhamos muito de perto com os produtores independentes na área de aquisições – nós raramente compramos séries completas “fora da estante” e preferimos investir cedo no processo de desenvolvimento de modo que possamos guiar o produtor a tornar seu programa mais apropriado para uma audiência internacional. Com as coproduções, o processo de desenvolvimento também pode levar algum tempo. “Tree Fu Tom”, por exemplo, criado e desenvolvido “dentro de casa” na CBeebies, levou 4 anos de trabalho para ser contratado sob nossa supervisão.

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Tree Fu Tom – Série Cbeebies

Produções originais, coproduções e aquisições: existe um equilíbrio na composição da programação?

Na CBeebies temos uma cota de 70% de material original (inteiramente financiado por nós ou coproduções) e 30% de aquisições.

Quais são a série que respondem melhor para o canal neste momento?

Os dramas estão indo excepcionalmente bem para a CBeebies este ano – “Katie Morag” é uma série sobre uma jovem e sua família e sua comunidade nas Highlands da Escócia. “Topsy and Tim” é uma série sobre gêmeos, baseada em um ambiente doméstico; nós a chamamos de nossa primeira novela pré-escolar! Outro sucesso é um movimentado game-show de piratas chamado “Swashbuckle!”. As principais aquisições são “Octonautas” e “Peter Rabbit”.

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Swashbuckle! – Série da Cbeebies

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Octonautas – Série da Cbeebies

Qual é sua impressão do mercado no Brasil e dos produtores brasileiros para as crianças?

Estive no Rio Content Market em março de 2014 – minha primeira vez no país – e conheci muitos produtores, que me mostraram projetos muito criativos. Sei que já existe um mercado internacional de animação infantil no Brasil, e que há uma ambição crescente por coproduções / aquisições e vendas no contexto pré-escolar. O contexto doméstico parece estar se tornando mais forte a cada dia. Foi muito interessante para mim começar a fazer novos relacionamentos no Rio. Espero que eles rendam frutos no futuro!

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Topsy and Tim – Série Cbeebies

[Fonte: ComKids]

 

Grim participa de mesa de debate sobre publicidade infantil

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Na noite da ultima quarta-feira, 27, a Liga Experimental de Comunicação promoveu a mesa de debate Publicidade Infantil: Proibir ou não? Evento contou com a participação de Mônica Sillan, membro do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA-CE); do coordenador do curso de publicidade da Universidade de Fortaleza e sócio da Agência de Publicidade Ipsilon, Carlos Bittencourt; e da professora do curso de publicidade da Universidade Federal do Ceará e coordenadora do Grim (Grupo de Pesquisa da Relação Infância, Adolescência e Mídia) Inês Vitorino.

Primeiro Momento

Cada convidado tinha vinte minutos para expor suas ideias sobre o tema do encontro.

Mônica iniciou o debate comentando sobre a resolução do Conanda e dos problemas de obesidade relacionadas à publicidade de alimentos não saudáveis voltada para o público infantil. Ela ainda comentou sobre as relações sociais nas quais as os jovens se sentem pressionados a consumir determinados bens para pertencerem a determinados grupos, ela também destacou sobre a sociedade adultocêntrica e como a publicidade faz uso disso.

Em seguida Carlos Bittencourt afirmou que “propaganda para criança é indefensável”, ao mesmo tempo em que ironiza sobre a demonização da publicidade. Ele destacou que a família tem um papel importante em educar os filhos e de que não é só a propaganda que é agressiva, mas a programação televisiva como um todo. Ele relatou que não basta apenas proibir a publicidade infantil, mas que a sociedade precisa ter mais responsabilidade, que devemos falar de toda propaganda abusiva, não só das dirigidas para o público infantil. Ele pontuou também a falta de controle no uso da internet pelas crianças e nos riscos que isso pode provocar.  Carlos Bittencourt declarou também que não se pode transferir a responsabilidade dos pais apenas para a legislação.

Inês Vitorino da continuidade ao debate afirmando que compartilhava de várias questões que o Carlos Bittencourt trouxe em seu diálogo, ela comentou sobre a produção cultural voltada para as crianças e da publicidade que vem embutida dentro da programação, alertando que as crianças de até oito anos não conseguem diferenciar a programação infantil da publicidade, e que a publicidade faz uso do repertório infantil para ludibriar e confundir a criança. Depois ela comentou sobre os avanços no cenário mundial na criação de leis contra a abusividade da propaganda voltada para o público infantil, ela ainda destacou a importância dessas leis e nas diferentes realidades das crianças brasileiras que precisam de amparo contra a abusividade da propaganda.  Ela ainda afirmou que a regulação da publicidade é uma arma para os publicitários que trabalham com ética. Por ultimo defendeu o trabalho dos profissionais da propaganda que pensam na publicidade como uma forma de conscientizar as pessoas para algo bom.

Participação do público

Após o momento de exposição de ideias dos convidados, foram feitas algumas perguntas dos estudantes e profissionais da área de comunicação que estavam presentes no Auditório Rachel de Queiroz, onde foi realizado o evento. A mediadora da mesa, a estudante de jornalismo e integrante da Liga, Luana Barros iniciou fazendo perguntando sobre a liberdade de expressão dos profissionais de publicidade. Os convidados foram unanimes afirmando que não existe liberdade de expressão absoluta, pois isso implica em uma série de fatores que impactam a sociedade.

Os participantes do debate ainda comentaram sobre a disseminação da publicidade nas diferentes mídias e o quão ela é agressiva onde quer que seja veiculada, destacando a internet como um território complicado de regulação, onde a propaganda circula de forma indiscriminada, não só na internet, mas também em outras produções audiovisuais por meio do merchandising.

 

Crianças cada vez mais conectadas desafiam pais e empresas de tecnologia

 

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Gustavo, de 9 anos, usa o computador para jogar, falar com os amigos pelo Skype ou Facebook, onde ‘tem’ 22 anos. FOTO: Rafael Arbex/Estadão Conteúdo

Por Bruno Capelas

SÃO PAULO – Aos 9 anos de idade, Gabriel passa os finais de semana jogando ‘Minecraft’ enquanto conversa com seus amigos pelo Skype em chamadas de voz, “porque parar o jogo para digitar não daria certo”. Com 10 anos de idade, Emília conversa com as amigas no Facebook enquanto vê um filme pela Netflix. Também com 10 anos, Gustavo joga games de futebol pela internet a tarde toda com pessoas de diversas partes do mundo ou assiste a vídeos sobre jogos no YouTube, enquanto planeja criar seu próprio canal de vídeos para ganhar dinheiro.

Os três, assim como milhões de jovens no País, fazem parte de uma geração que já nasceu conectada e que usa cada vez mais plataformas para jogar e interagir com seus amigos. Segundo a pesquisa TIC Kids Online 2013, divulgada pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) em julho, 79% dos jovens conectados à web entre 9 e 17 anos no Brasil estão em alguma rede social; em 2012, eram 70%.

Pelas suas atividades online, Gabriel, Emília e Gustavo, porém, podem ser considerados clandestinos digitais. Isso porque a maioria dos serviços que utilizam – incluindo redes de jogos como Minecraft e League of Legends – não são permitidos para menores de 13, 16 ou 18 anos (veja tabela abaixo), de acordo com suas condições de uso.

“Tenho Facebook desde 2010, e para me cadastrar disse que eu tinha 22 anos, a idade do meu irmão mais velho. Sempre faço isso com qualquer coisa que me pede idade”, diz Gustavo. Ele não é o único: 37% dos jovens conectados do País usam idades falsas em seus perfis em redes sociais – entre 9 e 13 anos, a proporção vai para 55%, aponta pesquisa do NIC.br.

Caso sejam descobertos pelas empresas, os “pequenos usuários” podem ter suas contas excluídas de plataformas como Facebook, Instagram, Twitter e contas do Google, que incluem serviços como YouTube e Gmail, muitas vezes utilizadas não só para entretenimento, mas também para educação.

“O Gustavo costuma passar a tarde assistindo vídeos de receitas no YouTube, e vive surpreendendo a gente na cozinha com coisas fáceis”, conta Sandra, mãe do garoto que também usa o Facebook para saber sobre as tarefas da escola em um grupo com seus colegas de sala.

redes

Proibido para menores. Google, Facebook, Instagram, Snapchat e jogos como League of Legends e Minecraft têm ‘censura’ 13 anos. Para usar o WhatsApp a idade mínima é 16. Twitter e Skype não estipulam idade mínima. Já as redes PSN ou Xbox Live, exigem mínimo de 18 anos ou autorização dos pais

Para a professora da Universidade da Califórnia Mimi Ito, estudiosa do comportamento jovem na internet, as empresas de tecnologia precisam ter uma postura mais ativa com relação aos direitos das crianças. “Na maior parte das vezes, as empresas só incentivam as crianças a saírem das plataformas”, diz.

Empresas

Esta postura pode mudar em breve. Na última semana, o jornal Financial Times publicou que o Google estaria desenvolvendo uma versão de seus serviços para menores de 13 anos, permitindo aos pais o controle das atividades de seus filhos em sites como o YouTube. Questionado pelo Link, o porta-voz do Google não quis comentar a notícia.

Em junho, o Facebook conquistou nos EUA o direito sobre uma patente que também permitiria a adoção da plataforma por menores de 13 anos – estimativas da consultoria Consumer Research dão conta de que há 5,6 milhões de perfis ‘clandestinos’ de crianças na rede. Ao Estado, o Facebook admitiu a existência da patente, mas diz não ter planos de mudança de suas políticas, mas apenas continuar a conscientização dos pais. Procurados pela reportagem, WhatsApp e Snapchat não responderam aos pedidos de esclarecimentos.

Há quem veja nas crianças uma oportunidade de negócio educativo. É o caso do aplicativo norueguês Kuddle, que pretende ser um “Instagram para crianças”, permitindo o compartilhamento de fotos e imagens criativas feitas pelos pequenos, em um ambiente isolado e motivacional. “Meu filho de 7 anos queria estar nas redes sociais como suas irmãs, mas não consegui achar nada que fosse divertido e seguro para ele”, conta o CEO da empresa, Ole Vidar Hestaas. Criado há um mês, o aplicativo tem crescido entre 10% e 15% por dia nas últimas semanas, e chega ao Brasil em breve.

Supervisão

Para a maioria dos pais, é um desafio tentar educar os filhos com tantas novidades da interação virtual, especialmente pela quantidade de diferentes serviços e o tempo que seus filhos passam na internet, sem falar no próprio hábito de usar a rede (46% dos pais de crianças conectadas não costumam acessar a internet).

“Ele alterna a TV com videogame e computador. Eu não gosto, mas ele não tem muita opção morando na cidade, não dá para brincar na rua”, conta a mãe de Gustavo, que diz ser amiga dos colegas de sala do filho no Facebook e supervisionar o que eles fazem na rede social.

A professora Mimi Ito acredita que o desconhecimento da tecnologia não é desculpa para os pais “largarem mão” da educação online dos filhos. Mãe de duas crianças, a educadora Priscila Gonsales, do Instituto EducaDigital, avalia que a melhor conduta para os pais lidarem com a questão é o diálogo.

“Não dá para proibir. O que importa é conscientizá-los que, a cada vez que eles postam alguma coisa, o mundo inteiro está vendo, e nem sempre tudo é necessário”, conclui.

[Fonte: Estadão]

 

[Mesa de Debate] Publicidade Infantil: Proibir ou Não?

evento liga

A Liga Experimental de Comunicação realiza, no dia 27 de agosto, às 18h, a mesa de debate “Publicidade Infantil: Proibir ou não?”. O evento tem o objetivo de promover a discussão, dentro do meio acadêmico, sobre a mais recente resolução publicada pelo Conselho Nacional dos Direitos Humanos da Criança e do Adolescente (Conanda). O documento, publicado em abril deste ano, considera toda e qualquer publicidade voltada para o público infantil como prática abusiva. O evento acontece no Auditório Rachel de Queiroz, no Centro de Humanidades - Área 2 da UFC e contará com a presença de três convidados:

- Mônica Sillan de Oliveira: Conselheira do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente – CEDCA, representante, no Ceará, do Conselhor Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda).
- Inês Vitorino: Professora do curso de Comunicação Social (Jornalismo e Publicidade e Propaganda) da UFC, coordenadora do Grupo de Pesquisa da Relação Infância, Juventude e Mídia (GRIM - Núcleo UFC) e do Projeto de Extensão TVez: Educação para o uso crítico da mídia. 
- Carlos Bittencourt: Coordenador do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) e sócio-diretor da agência de publicidade Ipsilon.

Para se inscrever, basta acessar o link: http://goo.gl/6KOw5J. A Mesa renderá certificado.

 

As aventuras da Turma da Mônica contra o fim da publicidade infantil

Por Jornalismo Wando

O CONANDA (Conselho Nacional dos Direitos da Crianças e do Adolescente) esteve no centro da ribalta após a publicação da resolução 163, que revoltou defensores da liberdade irrestrita do mercado e os que faturam alto com a propaganda infantil.

A nova resolução proíbe esse tipo de publicidade. A intenção é evitar que crianças em fase de desenvolvimento sejam alvo das artimanhas e estratégias abusivas do mercado publicitário. As propagandas dos produtos infantis, a partir dessa resolução, devem ser direcionadas exclusivamente para os pais.

Parece que essa tentativa de poupar nossas crianças das garras da publicidade mexeu com os instintos mais primitivos do desenhista e empresário Mauricio de Sousa, um grande interessado em colocar seus personagens pra vender produtos como o "nuggets" de microondas, por exemplo. Para ele, a criança deve desfrutar da liberdade de ser bombardeada por uma simpática Mônica contando as maravilhas desse alimento tão saudável. A indignação do empresário é tanta, que ele decidiu exibir no Instagram a imagem de uma garotinha lutando pelo direito de assistir propaganda infantil:

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Garotinha fazendo seu protesto de forma livre e espontânea, sem influência de adultos.

A espontaneidade do protesto da garotinha comoveu aqueles que lutam por um país em que o mercado esteja totalmente livre de qualquer controle social. No cartaz empunhado pela criança, a publicidade infantil é tratada como um direito. Talvez seja o caso de incluí-lo na Declaração Universal dos Direitos das Crianças, afinal de contas, para Maurício, ter acesso às propagandas infantis parece ser um direito tão importante quanto frequentar a escola.

Na semana passada ele voltou ao Twitter e se mostrou ainda mais preocupado com a resolução 163. Numa série de tweets indignados, o desenhista pintou com cores sombrias o que seria um mundo sem propagandas para crianças:

"Li, de novo, o texto da resolução 163 do Conanda (sobre publicidade infantil). Não devia. A cada leitura me parece mais assustador. A resolução 163, se aprovada pelo congresso, vai transformar o país num vale de sombras, sem cor, sem alegria, sem liberdade, sem infância. Custo a acreditar que uma ameaça à liberdade como propõe a resolução 163 tenha sido entendida na sua abrangência até pelos seus signatários. Uma vez transformada em lei, a resolução 163 provocará desemprego em massa nas empresas ligadas à publicidade e produtos infantis...A resolução generaliza: toda publicidade dirigida à criança é abusiva e merece punição. É uma "caça às bruxas". Lembra o Iraque de hoje. Não gosto de usar este espaço democrático para passar estas coisas tão sérias. O clima pesa. Mas... tem hora que a coisa pega na garganta. A resolução 163 propõe proibir utilização de pessoas com apelo infantil em qualquer comunicação mercadológica. Se isso não é ditadura..."

Um quadro aterrorizante, não? Será mesmo que seria tão difícil para nossas crianças viverem num país onde a Mônica não apareça na TV vendendo "nuggets", batom, pulseira, sandália, iogurte, maçã, biscoito, macarrão instantâneo e tomatinhos? O mundo infantil ficará "sem cor, sem alegria e sem liberdade" se o Cebolinha não aparecer mais numa nave espacial colorida vendendo o seu mais novo chinelinho?

Os produtos da Turma da Mônica não serão proibidos. Eles continuarão nas prateleiras das lojas e supermercados. Apesar do tom dramático do empresário, a única diferença é que agora as propagandas deverão ser voltadas para os pais - aqueles que decidem o que os filhos irão consumir.

Na verdade, Mauricio, a resolução 163 não tem nada de iraquiana, apenas segue a linha de regulamentações já consolidadas nas principais democracias do mundo: Canadá, Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Noruega, Irlanda, Bélgica, Áustria, Grécia, entre outras. Segundo a lógica do empresário, nesses países a infância é sombria, sem cor, sem alegria, sem liberdade. Ele provavelmente não sabe que deve ser mais fácil colocar a Mônica pra vender batom em Bagdá do que em Estocolmo, já que na Suécia a lei proíbe toda e qualquer propaganda televisiva voltadas para menores de 12 anos antes das 21 horas. As sociedades mais livres e democráticas do mundo são justamente as mais reguladas, com leis feitas não pra reprimir, mas pra garantir que as demandas públicas sejam cumpridas. Nesses países, é o mercado quem deve se adaptar aos interesses democraticamente estabelecidos.

Além de representantes do governo, o Conanda é um conselho formado por entidades ligadas à proteção dos direitos das crianças, tais como: CNBB, Pastoral da Criança, APAE e OAB. A resolução 163 é uma antiga demanda desses representantes da sociedade civil. Portanto, chamar o resultado de um antigo debate democrático de ditatorial é pura hipocrisia. Não há qualquer interesse por trás senão a preservação do bem estar de crianças e adolescentes. Por outro lado, não é possível dizer o mesmo de grande parte dos opositores do projeto.

Afirmar que a resolução "provocará desemprego em massa" é ignorar que as propagandas de produtos infantis continuarão a existir, apenas terão que se adaptar para o público adulto, que já desenvolveu sua capacidade crítica. É covarde e cruel expor crianças em pleno desenvolvimento psíquico às estratégias de persuasão características da comunicação publicitária.

"Ah, mas é da responsabilidade dos pais decidir o que a criança deve assistir na televisão..."

Partir desse pressuposto seria perfeito num mundo ideal, onde todos os pais são responsáveis e têm disponibilidade pra ficar ao lado dos filhos 24 horas por dia. No mundo real, onde há pais que deixam seus filhos enfiarem a mão na jaula de um tigre, a coisa não funciona bem assim. Preservar o crescimento de nossas crianças deve ser uma responsabilidade de toda sociedade preocupada com seu futuro, e não apenas dos pais.

Além disso, se as crianças não são as responsáveis pelas compras, qual é o grande problema em direcionar a publicidade dos produtos infantis para os adultos para que estes façam a mediação do consumo? Será que é tão ditatorial assim? Com a palavra, os tiranos suecos.

Para ilustrar o post, trago esse antigo e edificante comercial da tesourinha do Mickey, exibido em 1992, e que disseminou bons valores entre a garotada daquela geração:

[Fonte: Yahoo Notícias]

 


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