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Viacom apresenta estudo global sobre crianças e adolescentes

A Viacom apresenta resultados do estudo “Kids of Today and Tomorrow - Um olhar bem próximo sobre essa geração”.

A pesquisa, em sua fase quantitativa (questionários online), abordou 6.200 crianças, entre 9 e 14 anos, de 32 países, incluindo o Brasil. Também foram realizadas pesquisas qualitativas, entrevistas com experts em comportamento e pais.

O estudo identificou cinco características que moldam o modo como essas crianças e adolescentes veem o mundo: eles são confiantes, pés no chão, protegidos, orgulhosos de ser do seu país e pensam mais em “nós” do que no “eu”.

“O estudo nos mostrou que, apesar de a mídia, de modo geral, enxergar os jovens desta faixa etária como preguiçosos, impacientes - no sentido de buscarem resultados imediatos -, que se entediam rapidamente, mimados e que desejam ser recompensados por seus esforços, ao serem questionados, eles se percebem de forma diferente. Com isso, torna-se primordial entendermos qual é a melhor forma de nos comunicarmos com esta geração”, avalia Adriana Pascale, diretora de pesquisa da Viacom Brasil.

viacom

Entre as principais conclusões da pesquisa, detectou-se que as crianças nesta idade se sentem mais autoconfiantes graças a alguns fatores, entre eles, a felicidade. No Brasil, quase 9 entre 10 entrevistados disseram que se consideram felizes, colocando o país entre os 10 mais felizes: 92% dos brasileiros contra uma média global de 88% afirmaram que se sentem muito felizes.

Globalmente, os principais drivers de felicidade identificados foram: passar tempo com os amigos, passar tempo com a família, sair de férias, usar a internet, ter muito tempo para relaxar e se divertir e assistir à TV. No Brasil, além destes, alcançar os sonhos de infância e ter muito dinheiro também foram fatores relevantes apontados.

Outro fator que contribui para a autoconfiança, de acordo com o estudo, é o humor: 72% das crianças/jovens brasileiros afirmaram que usam o humor para fazer as coisas "do seu jeito", contra média global de 64%. 62% concordam com a afirmação “desde que você tenha felicidade/diversão na vida, nada mais importa”.

O estresse parece estar perdendo espaço: 21% dos brasileiros dessa faixa etária afirmam que se consideram estressados contra 24% da média global. Percebe-se que o índice de estresse vem diminuindo ao longo dos anos (em comparação ao estudo de 2006).

A pesquisa também indica um "aumento de positividade" nessa geração, com expressões como: “Eu sempre tento ser positivo” e “Eu posso conseguir qualquer coisa desde que eu trabalhe duro para isso”, entre outras. A positividade desses jovens não é sinônimo de alienação em relação ao mundo em que vivem, mas, sim, uma forma de conduzir suas vidas e encarar a realidade.

“Esses jovens estão mais positivos, menos estressados e ‘recalibrando’ sua felicidade em um ciclo virtuoso”, explica a diretora da pesquisa. “Assim, para responder a estas crianças autoconfiantes, precisamos encontrar o tom certo, apostar na positividade, ter em mente a importância do humor inteligente e ter uma comunicação ou atividades que as leve a manter sua confiança e positividade. Mas não os estresse, afinal são crianças", pondera Adriana.

Autenticidade é um valor fundamental para estas crianças, que vivem com seus "pés nos chão", segundo apurado pelo estudo.

Este valor é expresso por meio das atitudes e relações que as crianças julgam mais significativas para suas vidas. Por exemplo, quando questionadas sobre quem as inspira, elas relacionam “ídolos” do seu dia a dia: a família aparece na primeira posição, sendo que a mãe é apontada por 96% dos entrevistados brasileiros como a pessoa que mais as inspira. Em segundo lugar, o melhor amigo, seguido por professores, eles mesmos e outros amigos.

Se eles estão tão ancorados na vida real e valorizam a autenticidade, para se comunicar com estes jovens é preciso mostrar valores reais e não superficiais, pois eles buscam algo que os ajude a expressar sua individualidade e criatividade, ainda de acordo com a pesquisa.

O estudo também apontou que 2/3 das crianças na faixa de 9 a 14 se sentem superprotegidas pelos pais: 81% afirmam sentir-se assim no Brasil contra 67% da média global. “São os chamados ‘pais velcro’ que formam um casulo em suas crianças, tentando restringir e controlar suas relações com o mundo. Por outro lado, devido ao avanço cada vez maior da tecnologia e ao aumento de novas plataformas, as crianças e jovens estão cada vez menos protegidos no mundo digital e mais expostos a ideias e imagens mundiais”, comenta Adriana. Um exemplo disso são os relacionamentos online, que começam cada vez mais cedo. No Brasil, 85% das crianças entrevistadas responderam que têm conta de e-mail, contra 67% da média global; 86% atuam nas redes sociais, contra 61% da média global, e 83% usam instant messages, contra 47% de média global.

“Neste contexto de maior proteção dos pais e ao mesmo tempo de forte atuação digital das crianças, os pais precisam sentir-se confortáveis com as marcas por meio de uma relação baseada em confiança. Uma forma de atingir isso é através de uma comunicação para toda a família, como uma unidade, isto é, não só falar com pais ou filhos individualmente. É preciso achar um ponto de equilíbrio entre essas duas vertentes de suas vidas: a extrema proteção na vida real e a desproteção no universo digital”, destaca a executiva.

O quarto tema-chave identificado pelo estudo é “Orgulhosos de ser”. Segundo a pesquisa, estes jovens estão expressando, cada vez mais, senso de afinidade com seu país de origem e o sentimento de “orgulho nacional” vem crescendo: 93% dos entrevistados afirmaram ter orgulho do Brasil.

A frase “a vida seria melhor se eu morasse em outro país” não combina com os jovens brasileiros de 9 a 14. Apenas 27% concordaram com ela contra 37% da média global. Eles gostam de manter as tradições locais, mas ao mesmo tempo estão abertos a outras culturas e 79% dos brasileiros entrevistados afirmaram que é maravilhoso ter pessoas de outros países vivendo aqui.

“Existe um aumento relevante de interesse pelo que é local, mas eles também se alimentam do que vem de fora e mostram interesse em adotar as tendências, marcas e ideias de outras culturas. Isso não significa que o fator internacional é melhor e nem que o local gere identificação imediata. O que importa é construir uma relação de relevância, independentemente da fonte”, observa a diretora.

O quinto tema-chave apontado pelo estudo é “Mais nós do que eu”. Os entrevistados desta faixa etária estendem o seu espirito de positividade à comunidade local, evidenciando a importância de ajudar as pessoas na comunidade e em todo o universo ao seu redor. “Novamente, o avanço da mídia digital tem papel importante na ampliação dos seus horizontes”, analisa a Adriana, destacando que 91% dos brasileiros declaram: “Meu grupo de idade tem o potencial de mudar o mundo para melhor”, contra 85% da média global.

Estar conectado à internet faz parte do dia a dia deste target, assim como comer ou dormir, ou seja, é praticamente inerente a este grupo que acompanha e se adapta às mudanças próprias do ambiente digital e, por isso, tem sempre a mente aberta. “Tudo isso faz com que desenvolvam um senso de comunidade global, com mais tolerância em relação a outras nações, pessoas e ideias, curiosidade sobre o mundo, flexibilidade para aceitar e se adaptar às mudanças. Estão mais criativos e cada vez mais compartilham e se conectam”, defende a diretora. “Vale frisar que, de acordo com o estudo, compartilhar e se conectar vai muito além das redes sociais; trata-se de uma sensibilidade em aproximar as pessoas ao seu redor, demonstrada nos valores que vivenciam”, ressalta Adriana.

[Fonte: Clube de Criação de São Paulo]

 

Instituto acusa revista de publicar fotos sensuais de meninas

vogue

Por Giovanna Balogh

A revista “Vogue Kids” é alvo de críticas nas redes sociais por ter publicado, na edição deste mês, uma seção de fotos com meninas menores de idade em poses sensuais, vestidas com biquínis.

O ensaio “Sombra e Água Fresca” já foi denunciado ao Ministério Público de São Paulo, Ministério Público Federal e à Polícia Federal nesta quinta-feira. Entre os denunciantes está o instituto Alana (organização de defesa dos direitos das crianças).

Procurada, a revista afirmou que não foi notificada e que não tem nada a declarar sobre o assunto.

A psicóloga do Alana, Laís Fontenelle, diz que ficou chocada ao ver as fotos. “São garotas em poses sensuais e uma clara adultização precoce dessas crianças”. Ela tem uma filha de dois anos. Laís afirma que as crianças ainda não têm seus valores formados e que não precisam ser expostas desta forma.

“O filho ou a filha brincarem com o salto alto da mãe ou com o batom em casa é saudável, faz parte do faz de conta e isso é saudável”, comenta. Segundo ela, não é saudável quando as empresas fazem salto alto para pés tamanho 20, ou sutiã com bojo para meninas de oito anos. “Assim como essas fotos, que mostram a menina tirando a blusa”, afirma.

“Muitas pessoas vão dizer que a maldade está no olho de quem vê. Mas a maldade está no olho de quem produz esse tipo de peça.”

Para a psicóloga, além de fomentar a exploração da sexualidade infantil, as fotos também têm ligação direta com a publicidade infantil, já que as modelos mirins estão fazendo propaganda das roupas.

Resolução do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes), órgão ligado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, proíbe a propaganda direcionada para crianças.

O Alana estuda como vai denunciar o caso e diz que qualquer pai pode reclamar ao Ministério Público e outras entidades, como o Procon.

Mãe de uma menina de dois anos, a roteirista Renata Corrêa, 31, ficou indignada com a publicação e chegou a colocar as fotos nas redes sociais. Em seguida, ela apagou as imagens justificando que as crianças já haviam sido expostas demais, mas o seu desabafo gerou mais de mil compartilhamentos apenas na manhã desta quinta-feira (11). Já um grupo no Facebook, chamado Pediatria Integral, tinha mais de 2.700 compartilhamentos com as imagens.

“Muitas vezes quando pensamos em pedofilia imaginamos um tio pervertido ou em um cara se escondendo atrás de um computador, ou de algo escondido, secreto. Mas a gente não fala de uma cultura de pedofilia, que está exposta diariamente, onde a imagem das crianças é explorada de uma forma sexualizada”, diz Renata.

A roteirista comenta ainda que se “a gente continuar a tratar nossas crianças dessa maneira, pedofilia não será um problema individual de um ‘tarado’ hipotético, e sim um problema coletivo, de uma sociedade que comercializa sem pudor o corpo de nossas meninas e meninos”, relata ainda no seu perfil no Facebook.

[Fonte: Folha de São Paulo]

 

[ARTIGO] Internet, pais infantis e banalidades

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Por Lais Fontenelle Pereira

Online sempre. Status: Disponível. Perfil: Público. É assim que a maioria das pessoas se apresenta ao mundo, hoje. Vivemos conectados às redes sociais trocando informações, opiniões, vídeos, fotos, intimidades – desde que acordamos até a hora de dormir. Não seria demasiado afirmar que elas têm sido nossas companhias mais assíduas. Daí que o espaço virtual tem tomado dimensões públicas que merecem atenção.

A espetacularização da vida cotidiana nas redes exige uma reflexão sobre a forma como temos educado as crianças para o uso dessa ambiência comunicacional. Será que os ditos nativos digitais (que já nasceram no império das novas tecnologias) estão de fato preparados emocionalmente para o uso dos meios de comunicação? Conseguem ter o devido cuidado e respeito aos limites entre o que deve ser público e privado? Será que, como adultos cuidadores, temos nos comportado de forma ética nas redes e dado exemplos de autocuidado?

A dependência que as pessoas, principalmente crianças e jovens têm demonstrado em relação aos aparatos tecnológicos é de causar preocupação. Basta observar passageiros embarcando ou chegando a um voo que pode durar menos de 50 minutos. Todos com seus smartphones a postos, trocando as últimas informações urgentíssimas antes de ficar offline por apenas 40 minutos, já que a conexão é proibida durante a viagem. Se antes fumantes “viciados” davam a última tragada em seus cigarros logo antes de entrar no avião e assim que chegavam, hoje quem ocupa esse lugar de dependência oral é, sem dúvida, o aparelho celular. Ouvi também inúmeros relatos de mães desesperadas porque os filhos dizem não saber viver sequer por algumas horas sem se relacionar com a tecnologia – não se sentiriam pertencentes, ou mesmo vivos offline.

Preocupa a forma como temos narrado incessantemente nossas vidas nas redes sociais – compartilhando o que comemos, o filme a que assistimos, nossos sentimentos pelo aniversariante do dia – e, principalmente, como temos exposto crianças com fotos de cada passo delas e a reprodução de diálogos privados que compartilhamos com eles. Será que as crianças, se pudessem opinar, gostariam do que temos feito com suas imagens e com idiossincrasias privadas? Estariam de acordo com a exposição de seus segredos? Acredito que não.

Crianças e jovens estão numa fase especial de construção de identidade e sentem-se violados quando expostos. Quem nunca viu uma criança constrangida, ou no mínimo envergonhada, quando contamos a familiares seu novo feito ou conquista? Quem se lembra dos antigos diários de adolescentes trancados a sete chaves para que o pai ou a mãe não descobrissem seu novo amor? Pois nos dias de hoje o que temos visto é sim, exposição – sem medida e desrespeitosa – experimentada por adultos e pelos jovens que os têm como exemplos.

Por isso, não me surpreende que crianças e adolescentes veiculem imagens suas expondo intimidades, como tem sido verificado por pais e educadores, ou até mesmo o fato de postarem informações e segredos de amigos, que deveriam ser de foro privado. Com a falta de conhecimento dos códigos de comportamento nas redes sociais, crianças e jovens chegam a publicar fatos ou boatos sérios sobre outros, o cyberbullying, levando-os até mesmo ao suicídio, como num caso recente.

Nas últimas semanas, alguns fatos específicos envolvendo o uso das redes sociais chamaram minha atenção. A foto de uma criança de menos de dois anos numa maca dentro de uma ambulância, rumo à emergência pediátrica, foi postada pela mãe aflita. O início da lua de mel de um casal que estava em crise foi compartilhado pelos noivos. O novo corte de cabelo e sua explicação do porquê da mudança de visual deu início à semana de postagens de uma administradora – seguido de milhões de posts sobre a morte súbita de Eduardo Campos e a empatia de todos com o sentimento de perda daquela família.

Como boa psicóloga, comecei a me questionar sobre a necessidade que os sujeitos contemporâneos têm tido de ser paparazzi de si mesmos. Por que razão necessitamos estar conectados em momentos que a conexão deveria ser muito mais privada do que pública? O que leva uma mãe, sem julgamentos aqui, a postar uma foto do nenê na ambulância ou um casal a compartilhar todos os passeios, restaurantes e imagens experimentadas numa viagem, enquanto deveriam estar conectados com si mesmos? O que nos leva a fazer autorretratos ou selfies e mostrar a todos? Mais, a quem interessaria saber por que resolvemos cortar o cabelo?

É fato que o interesse pela vida alheia é inerente ao humano, mas quando levado às raias da loucura pode acometer o sujeito com o voyeurismo. Nos dias atuais, quando a conectividade e o consumo pautam nossa socialização e a de crianças e jovens, perdemos a dimensão dos limites entre público e privado, e alimentam o voyeurismo.

Não quero aqui demonizar a tecnologia e o uso das redes sociais – até porque acho que os inúmeros avanços tecnológicos alcançados por nós, humanos, trouxeram muitos benefícios, como a agilidade na troca de informações, a possibilidade de conexão com o mundo e muito mais… Mas, isso não quer dizer que não devamos repensar a forma como temos nos relacionado com esses aparatos e espaços virtuais.

Quando compartilhamos um texto político ou reflexivo, ele consegue poucas curtidas; mas quando postamos a foto de nossos filhos no escorrega da praça pública ou a nova palavrinha aprendida, obtemos milhares de comentários. Curtir deixou de ser, hoje, um estado de espírito, convertendo-se em gesto automatizado e consumido nas redes – o que sugere uma doença social. O silêncio ou a capacidade de se ausentar parecem ter dado lugar a uma onipresença exaustiva e vazia. Perdemos a noção não somente dos limites entre público e privado como do que é prioritário. Tudo parece ser urgente, quando o mais urgente é talvez a necessidade de reflexão e estranhamento de certos comportamentos atuais que tomamos como normais e corriqueiros.

Sem capacidade crítica formada, crianças e jovens não ficam fora dessa lógica e têm consumido cada vez mais diferentes mídias, muitas vezes de forma simultânea: ouvem rádio enquanto navegam na internet, assistem à televisão lendo gibis, participam de jogos interativos no computador e ao mesmo tempo falam ao telefone ou se utilizam de outros gadgets digitais. É a geração Google, Web 2.0 ou “do Milênio”, considerada ‘multitarefa’.[1]

Pesquisa recente da comScore, divulgada em janeiro de 2014, aponta que o número de crianças e adolescentes nas redes sociais brasileiras aumentou 118% entre 2012 e 2013, ou seja, de 4,3 milhões para 9,4 milhões. Segundo o levantamento, esses usuários passam mais de 18 horas mensais conectados. A pesquisa apontou também que, entre os jovens usuários de internet, 70% possuem perfil em alguma rede social. O Facebook, teoricamente, só aceita usuários de ao menos 13 anos de idade. Nada impede, porém, um usuário de até 12 anos cadastrar-se com idade que não é a sua. Dados da pesquisa Kids Online, de 2012, sugerem que esta prática é inclusive bastante comum: apenas 27% dos entrevistados de 9 a 16 anos declaram informar corretamente a sua idade nas redes sociais. A maioria absoluta (57%) afirmou optar por idade falsa.

Embora “nativas digitais”, crianças e jovens ainda precisam de mediação no uso das tecnologias, e de bons modelos e serem seguidos. Apesar de sua destreza no domínio concreto da tecnologia, não têm a maturidade necessária para compreender todo o conteúdo acessado e como devem comportar-se nesse novo ambiente virtual. Não foi à toa que o aplicativo Secret (que estimula o compartilhamento anônimo de segredos com conhecidos) gerou tanta polêmica recentemente. Acabou sendo proibido no Brasil, devido a sérios casos de bullying entre jovens.

Em nosso tempo, o ambiente virtual é um espaço para exercitar a cidadania e o convívio social difuso, e por isso as dimensões de liberdade e segurança precisam ser muito bem expostas às crianças. A educação para uma cidadania digital se faz urgente, para que a apropriação desse espaço se dê de forma mais ética. Mas, para que isso aconteça, nós adultos devemos primeiro repensar a relação que temos estabelecido com as redes sociais. Precisamos nos desconectar para ter mais tempo de concentração no que é urgente e importante – mais tempo de escuta, de reflexão, encontro e mediação com crianças e jovens. Porque as melhores coisas do mundo, parodiando o excelente filme da Lais Bodansky sobre adolescer na contemporaneidade, devem sem dúvida permanecer privadas ou ser narradas com a devida calma. Curtir, compartilhar e comentar tudo, 24 horas por dia, não são obrigações e ser seguidas. Já educar nossos filhos, nativos digitais, para o uso adequado das redes sociais é, sim, nossa responsabilidade.

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[1] De Assis In: Infância e Consumo. Estudos no campo da Comunicação. Instituto Alana. São Paulo, 2009.

 

Lais Fontenelle Pereira, mestre em Psicologia Clínica pela PUC-Rio e autora de livros infantis, é especialista no tema Criança, Consumo e Mídia. Ativista pelos direitos da criança frente às relações de consumo, é consultora do Instituto Alana, onde coordenou durante 6 anos as áreas de Educação e Pesquisa do Projeto Criança e Consumo.

[Fonte: Outras Palavras]

 

Site do Programa TVez é relançado dia 15 de setembro

tvez

O Programa de Extensão TVez – Educação para o uso crítico da mídia – está relançando o seu website (www.tvez.ufc.br) nesta segunda-feira (15), às 17h, na Sala de Reuniões do Departamento de Psicologia – Centro de Humanidades 2, localizada na Avenida da Universidade, 2762, Benfica. O objetivo é apresentar a criação de um espaço de pesquisa e interação que servirá de base para o ensino dentro e fora da Universidade, agregando a publicação acadêmica de alunos da UFC e dialogando com a comunidade cearense.

O site é uma atualização da versão originada em 2010 para ampliar o debate sobre educação, mídia, infância e juventude, abordados sob a ótica da psicologia, publicidade, jornalismo, educação, cinema e audiovisual, entre outros. Na nova roupagem, buscou-se transformá-lo em um espaço mais colaborativo, sendo criadas sessões como a UFC FAZ, destinada a divulgação de trabalhos realizados em sala de aula. Além disso, também é possível contribuir com o menu A GENTE INDICA, sugerindo Filmes, Vídeos, Tirinhas/Charges, Sites, Artigos, Livros e Cartilhas que tenham a ver com as temáticas propostas. Os conteúdos ainda são difundidos na fanpage Programa Tvez (facebook.com/programatvez), criada em 2013. As mudanças foram feitas no sentido de fortalecer os vínculos dos estudantes com os seus cursos de graduação.

Para as coordenadoras do programa, Inês Vitorino e Luciana Lobo, o site é mais um espaço de diálogo que pretende instigar tanto o debate nas escolas, quanto a produção acadêmica sobre os assuntos abordados. “Acreditamos no estímulo à produção dos próprios alunos da UFC que estejam discutindo temas relacionados à infância, adolescência, educação e mídia, sob diferentes formas: trabalhos escritos, vídeos, desenhos, spot de rádio. A ideia é que o site seja um local de compartilhamento e troca de nossos alunos com as escolas, ajudando ao sentimento de pertencimento do aluno ao seu curso”, explica Lobo.

De acordo com a professora Inês, é fundamental a promoção de espaços nos quais se problematize a abordagem comunicacional dirigida a crianças e adolescentes, tanto do ponto de vista dos direitos quanto dos seus processos formativos. “Esperamos que a reconfiguração do site do TVEZ potencialize o envolvimento dos nossos estudantes com as temáticas da criança e do adolescente, que hoje representam 1/3 da população brasileira, o que não é pouco!”, afirma.

O Programa TVez existe na Universidade Federal do Ceará (UFC) desde 2005. Desde então, vem promovendo debates e ações envolvendo a relação de crianças e jovens com os meios de comunicação. O TVez desenvolve suas ações através de oficinas, cineclubes, seminários etc, trabalhando com os paradigmas da mídia-educação que propõe a discussão e produção de mídia qualificada no cotidiano escolar.

Reuniões do Programa: Quintas-feiras, às 12h30min, na Sala do Lapsus – Departamento de Psicologia - Avenida da Universidade, 2762, Benfica.

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[ARTIGO] “Por exemplo, eu”

por Maria Helena Masquetti*

criança

Enquanto de um lado as pessoas envolvidas com a proteção dos direitos das crianças defendem que elas devam viver plenamente a infância em lugar de consumir, por outro as reações do mercado incluem argumentos como: “Eu, por exemplo, fui exposto a todo tipo de programação da TV na minha infância e não cresci com problemas”.

“Sempre comi porcaria e tomei refrigerante e nunca engordei”. “Por exemplo, eu sempre apanhei dos meus pais e não cresci revoltado por isso”. “Eu sempre ganhei tudo que quis e hoje sou uma pessoa normal”. É comum as pessoas colocarem a si mesmas como exemplo e seria bom que pudessem ser, desde que estes exemplos não fossem, no mínimo, socialmente questionáveis, e desde que pudessem ser seguramente replicados como modelos de conduta para uma vida saudável, justa e feliz. E o primeiro aspecto a ser levado em conta nestes casos é que as experiências passadas determinam nosso modo presente de sentir e julgar. Por isso, precisamos estar certos de que todas essas experiências tenham sido realmente exemplares.

Comparações como as que foram citadas, costumam ser mais frequentes diante de movimentos por mudanças em prol do bem estar comum. Um deles, por exemplo, pede urgência na regulamentação da publicidade dirigida ao público infantil. Enquanto de um lado as pessoas envolvidas com a proteção dos direitos das crianças defendem que elas devam viver plenamente a infância em lugar de consumir, por outro as reações do mercado incluem argumentos como: “Eu, por exemplo, fui exposto a todo tipo de programação da TV na minha infância e não cresci com problemas”, “Sempre ganhei tudo o que pedia, porém hoje trabalho duro para comprar tudo o que quero”.

Poder aquisitivo, títulos acadêmicos, sucesso profissional, padrões de conduta aceitáveis e mesmo boas ações nem sempre são suficientes para nos tornar humanamente bem sucedidos. E esse é justamente um ponto preocupante, sobre o quanto o convencimento contínuo das crianças para consumir em lugar de brincar contribui para induzi-las a concluir que o sucesso material pode definir, por si só, uma pessoa feliz. Ou exemplar.

O filme Duas Vidas parece ser inspirador para uma reflexão sobre a questão: Russ (Bruce Willis), personagem central, é um consultor de imagem, rico, altamente exigente e, claro, considerado um exemplo no cenário profissional. No entanto, nas relações pessoais, Russ invariavelmente fracassa. E o motivo disso logo se revela. Quando criança, seu pai o impedia de chorar em situações difíceis, exigindo que ele fosse precocemente forte. Alice Miller, psicóloga polonesa, com notável trabalho focado nos reflexos da educação na vida adulta, diz algo muito compatível com o que sucede ao personagem: “A necessidade interior de construir constantemente novas ilusões e negações, a fim de evitar a vivência da própria verdade, desaparece assim que essa verdade for encarada e vivenciada”.

O modo bonito como Russ mudou sua visão de mundo foi, claro, coisa de cinema, mas, nem por isso deixa de ser o que se espera de qualquer pessoa justa e humana. Abrir mão de ganhos fáceis e rever conceitos nem sempre é confortável, mas mudar pelo bem de muitos, quanto mais se forem crianças, é um ótimo negócio com a vida. E pode produzir ideias e apontar caminhos para um sucesso ainda mais amplo e inteligente, capaz de fazer o empreendedor sorrir com a integridade de uma criança, por exemplo.

* Maria Helena Masquetti é graduada em Psicologia e Comunicação Social, possui especialização em Psicoterapia Breve e realiza atendimento clínico em consultório desde 1993. Exerceu a função de redatora publicitária durante 12 anos e hoje é psicóloga do Instituto Alana.

(A Autora)

[Fonte: Envolverde]

 


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