Como fazer uma cobertura ética e plural do fenômeno da violência praticada por adolescentes?
Realizado na tarde desta quinta-feira, 15, o Café Restaurativo proporcionou mais uma oportunidade para o estreitamento de laços, ideias e açõs. Tudo em prol da construção de uma forma de encarar o mundo que dê prioridade ao desenvolvimento sadio de crianças e adolescentes. O debate é uma forma de buscar fortalecimento de redes de articulação que, superando ações isoladas e individuais, possam ser capazes de pensar e implementar políticas públicas em defesa desses direitos da juventude, acredita Inês Vitorino, representante do Grim convidada para facilitar o debate.
Foi o encerramento da III Semana Nacional de Justiça Restaurativa e do I Encontro Regional Interdisciplinar dos Direitos da Infância e Juventude. Participaram da discussão profissionais e estudantes de Direito, assim como profissionais e estudantes da comunicação. O tema era: a contribuição da mídia na construção da mudança de paradigma na responsabilização do adolescente no ato infracional.
Inês destacou o papel central do jornalismo na formação de uma opinião pública, ao abastecer a sociedade com informações que permitam a compreensão do mundo que a rodeia. Ao “construir a realidade”, como defende o filósofo canadense Marshall McLuhan, trazendo para o mundo do indivíduo aquilo que ele não presenciou ou viveu, como lembra o sociólogo britânico Anthony Giddens, a mídia pauta a agenda aquilo que o público considera relevante ou mesmo verdadeiro, afirma Inês, citando o alemão Jürgen Habermas e o francês Dominiqe Wolton.
Por isso, a importância de uma cobertura pautada pela ética, com vistas ao máximo esgotamento possível de elementos para a construção daquilo que será apresentado ao público. Infelizmente, lamenta Inês, não é o que se apresenta nos veículos de comunicação de massa, sobretudo, em casos de infrações atribuídas a menores de 18 anos. Sobretudo na TV e nos programas policiais, o que se vê é uma análise fragmentada e descontextualizada do fenômeno da violência, com a apresentação de ocorrências pontuais, conduzidas sob o viés moralista-punitivista, em análise sempre individual. Nessa forma de encarar o problema, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) transforma-se em salvo conduta para “menores” praticarem toda sorte de crimes. Ora, se o único fato a se levar em conta em um ato de violência é a conduta moral do indivíduo, toda e qualquer apresentação de elementos outros é vista como “defesa de bandidos”. O sistema socioeducativo e a justiça restaurativa são brandos demais com elementos perigosos e irrecuperáveis.
Inês lembra que se trata apenas de seguir as técnicas jornalísticas que "qualquer aluno que entra na faculdade aprende": não fazer pré-julgamentos e registrar as mais variadas visões sobre o assunto. Dessa forma, mune-se o leitor/telespectador com os melhores elementos para que ele melhor forma sua opinião sobre o assunto; não referendá-lo somente com a reprodução do senso comum. Estatísticas, visões de especialistas, explicações da Lei e do trâmite penal enriquecem mais o debate que os clichês e jargões contra a persona "direitos humanos", por exemplo.
Ao fazerem isso, tais programas corroboram uma visão distorcida de sociedade, que leva a dados como o do Datafolha, no 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública: 57% da população concorda que "bandido bom é bandido morto". "Não acho que quem diz isso é idiota. Há quem diga isso por interesse de classe, quem acha, realmente, que eu tenho que me dar bem e os outros que se explodam. Mas é a maioria? Cinquenta e sete porcento dos brasileiros? Eu não vou acreditar nisso, me recuso a acreditar. Eu vejo atos de humanidade, de generosidade, de partilha, de solidariedade. Então, me parece que isso tem a ver também com desinformação”.