Convergência midiática e a juventude é o tema da mais nova edição da revista da pós-graduação da UFC

A última edição da revista Passagens, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, da Universidade Federal do Ceará (UFC), é uma peça fundamental para entender as influências do avanço da convergência midiática nas formas de sociabilidade de crianças e adolescentes. O dossiê Crianças e Jovens no contexto de convergência traz cinco artigos e uma resenha que “revelam as potencialidades, os limites das políticas regulatórias e das práticas de ‘mídia-educação’ contribuindo, desse modo, para aprofundar o debate, sem recair em posturas celebratórias ou de pânico moral em relação à tecnologia”, conforme escrevem no editorial as pesquisadoras do Grim, Inês Vitorino e Andréa Pinheiro, que organizam o periódico.

No artigo que abre o dossiê, “‘Nativos e imigrantes digitais em questão’: crianças e competências midiáticas na escola”, a autora Monica Fantin desconstrói a noção de que as crianças desta geração são, naturalmente, mais aptas ao uso das novas tecnologias. Em grupos focais com professores e alunos, foram ouvidos relatos de domínios assimétricos das ferramentas digitais; um professor, por exemplo, afirmou haver alunos que não tinham dificuldade no uso de sites de relacionamento ao passo de que não sabiam fazer operações simples em editores de texto. “O desafio que se apresenta, segundo a autora, é o da mediação, que deve considerar simultaneamente as apropriações que as culturas infanto-juvenis fazem da relação com os artefatos tecnológicos, as aprendizagens informais constituídas nesse contato e a necessidade de incorporar a essas práticas o desenvolvimento da capacidade crítica e ética, na perspectiva de uma educação cidadã”, escrevem Andrea Pinheiro e Inês Vitorino.

 

Já em “Limites entre o público e privado nas relações de adolescentes através das redes sociais virtuais”, de Vanina Costa Dias, vê-se como os jovens,  a partir de uma incursão "netnográfica' pela autora de um grupo privado no Facebook, constroem os seus conceitos de público e privado no espaço virtual. A conclusão chegada pela autora é de que os jovens "manejam de forma diferente essas interações e socializações [...] mantendo seus espaços de intimidade”, mas sem abrir mão da privacidade.

 

“Mudanças em (dis)curso: a noção de ‘publicidade infantil’ em franco processo de ressignificação”, de Brenda Lyra Guedes, registra o processo de mudança nesse tipo de discurso apontando a “saturação” da publicidade comercial. Com isso, os publicitário vem rendendo-se a visões que problematizam o consumismo. “Pontua-se então que, estando a noção de ‘publicidade infantil’ em franco processo de ressignificação, diferentes representações sobre o que significa o cuidado com a criança e a promoção de conteúdos relevantes para a mesma entram em conflito”, afirma a autora.

 

O consumo de conteúdo áudio-visual através da internet é o tema do artigo “Accountability e educação para a mídia: caminhos para a infância protegida em tempos de consumo de televisão via internet”, de Angela Lovato Dellazzana e Ana Luiza Coiro-Moraes. As autoras defendem a importância da educação para o uso da mídia em um contexto que põe em xeque formas de proteção à infância nos meios tradicionais, como a classificação indicativa na TV.

 

Em “Cibercultura e redes sociais — O acesso e a conexão definem as práticas das juventudes?”, Adriana Hoffmann Fernandes e Lucy Anna Diniz defendem não ser as tecnologias a definir os usos sociais, mas 'o contexto cultural em que os sujeitos estão imersos”. Para tal afirmativa, as autoras realizaram entrevistas e questionários com jovens entre 11 e 15 anos, notando que eles, em sua maioria, usam as redes sociais da internet para relacionar-se com quem já conheciam nos meios offlines.

 

Por fim, a resenha do livro “É complicado: As vidas sociais dos adolescentes em rede”, de Danah Boyd, feita por Cristiane Parente de Sá Barreto. “Adolescentes em rede: caminhos, aprendizagens, possibilidades de cidadania” mostra o trabalho da autora estadunidense. Boyd entrevistou 166 adolescentes, de 18 estados de sua terra natal, no período entre 2005 e 2012. O que os adolescentes fazem quando estão nas redes sociais? Como se comportam? Como as redes afetam suas vidas? O fato de terem intimidade com as redes os faz terem mais literacia digital? Essas são algumas das perguntas respondidas.

 

Serviço
A revista pode ser lida na íntegra em: http://migre.me/v09eM